Cinema para não-cinéfilos

Fellini, Godard, Vertov. São alguns nomes que talvez sim, talvez não, você já tenha ouvido falar. Foram pessoas importantíssimas, mas há uma possibilidade que, quando alguém comenta que tal filme faz alusão à Nouvelle Vague, você esboce um sorriso educado no seu rosto e apenas concorde. E não há nenhum problema com isso. Falar sobre esses palavrões do cinema é um assunto essencial, porém um pouco complicado. Por isso, caso um dos seus desejos seja falar confortavelmente sobre algo interessante, divertido, ou animador que assistiu no final de semana, que tal se familiarizar com os básicos? E você, que já gosta dos Franceses, curte um filme cabeça e também falar sobre Potemkin, que tal revisar algumas fundamentações?

COMO LER UMA IMAGEM?

Em sua maioria, encontramos o básico, os fundamentos do cinema, em suas imagens. Os filmes são feitos de uma série de fotografias, que, quando colocadas lado a lado e exibidos rapidamente um atrás do outro, dão ao cérebro a sensação de movimento. Dependendo da máquina e do formato de vídeo, podem ser utilizadas de 120 até 300 fotografias por segundo! Cada uma dessas fotos são chamadas de frames. Entendendo que os filmes são formados literalmente por imagens, para falar da sua opinião, do que você gostou ou não em um filme, o próximo passo é aprender a ler uma imagem. Como? Da mesma maneira como você lê um texto! Desde a infância aprendemos a identificar coisas como verbos, adjetivos e preposições, que, essencialmente, são todas palavras apenas com sentidos diferentes. Em um conjunto, formam um texto e indicam as ideias de quem o escreveu. Imagens são o mesmo. Mas quais são as palavras das imagens?

• COR

• EDIÇÃO

• MÚSICA

• HISTÓRIA/ROTEIRO

• CONTEXTO HISTÓRICO

• PERSONAGENS

Existem diversos outros elementos que formam as imagens de um filme, mas estes são alguns dos fundamentais. Assim como no texto, identificamos os adjetivos que nos dão uma ideia de como é algo, como é uma pessoa, ou um objeto; em uma comida saborosa sabemos se gostamos ou não da textura, se é agradável a temperatura, se há sal o suficiente. Essas são maneiras de dissecarmos algo para entendê-lo melhor, aprender a digerir algo tranquilamente. Por isso, um meio eficaz de aprender e fixar esses principais pontos de um longa ou curta-metragem, é de ter um roteiro de perguntas. Basta tentar respondê-las, comparando as imagens em sua cabeça, o que você lembra de ter assistido e suas emoções e sentimentos durante. Em pouquíssimo tempo, qualquer um é capaz de formar uma opinião completa e sensível sobre qualquer material.

COR

> O filme parece frio ou quente? É mais colorido ou monocromático? O que as cores lhe fazem sentir? As imagens lhe parecem suaves ou duras, frias? Há alguma cor que é destacada continuamente durante?

EDIÇÃO

> As cenas são longas ou curtas? Que ritmo você dá ao filme? Rápido, frenético, devagar, longo, intercalado? O que você sente com isso? O ritmo auxilia a contar a história do filme ou não? Se sim, como?

MÚSICA

> As músicas são originais, compostas apenas para o filme, ou foram utilizadas outras de artistas/bandas já existentes? Você sente que as músicas dão tom às imagens? Quais? Medo, alegria, romance? Você gosta da música que foi usada? (isso é muito importante!).

HISTÓRIA/ROTEIRO

> Sobre o que é a história do filme? Que conflitos são apresentados? Brigas entre familiares, dinheiro, conflitos internos dos personagens, algum mistério? A história se resolve? Existe algum ponto apresentado na história e que não foi resolvido? Se sim, é um problema? Você gostou? E caso não, mesma coisa: é um problema? Você gostou ou não? Por quê?

CONTEXTO HISTÓRICO

> Quando se passa o filme? Onde? Por acaso há alguma motivação cultural/histórica/política que move a ambição dos personagens?

PERSONAGENS

> Quem são os personagens apresentados? Quais são as personalidades deles? Quais são os pontos negativos e os positivos de cada um? No que influenciam na história? Você se identifica com algum deles? Você torce para algum dos personagens? Você não gosta de alguém?

Essas perguntas são um exercício constante de raciocínio. Algo muito importante de se lembrar é: sempre se questione o porquê! Ao procurar a razão de uma opinião é possível rapidamente chegar à raiz das suas motivações, entendendo a si mesmo melhor e desenvolvendo um pensamento e olhar crítico. Resultado: opiniões completas e dignas de discussão!

Um dos filmes utilizados como referência ilustrativa se chama Whiplash (2014), do diretor Damien Chazelle. É um ótimo longa, com conteúdo abundante para todos os pontos de discussão do roteiro acima: fotografia envolvente, edição equilibrada, personagens com ambições e um arco interessante, e estes são apenas alguns exemplos. Para quem estiver interessado em um bom começo para exercitar um pensamento crítico cinematográfico, eu altamente recomendo esse filme. Além disso, você ainda sai com uma lista longa de músicas novas incríveis para escutar!

Os stills que se encontram neste artigo são dos seguintes filmes:

A Odisseia dos Tontos (2019), Sebastián Borensztein

Beetlejuice (1988), Tim Burton

Blade Runner (1982), Ridley Scott

Coringa (2019), Todd Phillips

Drive (2011), Nicolas Winding Refn

Her (2014), Spike Jonze

Mad Max (2015), George Miller

Moonrise Kingdom (2012), Wes Anderson

Relatos Selvagens (2014), Damián Szifron

Whiplash (2014), Damien Chazelle

Escrito por Rebecca Maia.

"Sou Bacharel em Artes Visuais, formada pela UFPR em 2019. Desde o começo da minha formação, busquei aprender sobre cinema, pois quase não tive conteúdo sobre em 4 anos. No final, escrevi um TCC sobre a importância do questionamento da representação imagética como documento, entendendo sempre o porquê das imagens. Hoje, tendo cultivado uma paixão por escrita e leitura durante anos, busco uma oportunidade para compartilhar as minhas ideias e ter novas discussões!"