Como vocês vão explicar tudo isso no futuro?
- Stephanie J. Tassoulas
- 5 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de set. de 2020
Rotineiramente nas aulas de História para os Anos Finais recebo essa pergunta. Seja por algum meme que os alunos compartilharam ou até mesmo por receios perante a tanta confusão do mundo atual, ouço uma certa preocupação nas vozes infantis me questionando: "mas profe, como você vai explicar tudo o que tem acontecido no futuro?".
Esse questionamento não vem somente dos pequenos, vem de amigos, familiares e tantas pessoas que ao olhar para a confusão, não entendem como funciona a investigação histórica. E já lhe adianto, caro leitor, que esse texto não tem a intenção de discutir as metodologias ou as diferentes análises históricas. É mais um relato sobre o cotidiano do fazer histórico em sala de aula.
Nas mesmas aulas que me questionam sobre as confusões atuais e como os historiadores farão para explicar tudo isso no futuro, também perguntam ansiosos sobre quando vão finalmente poder estudar sobre a Segunda Guerra, tema que é amplamente explorado pelas diferentes mídias e que faz parte da nossa história contemporânea. Quando recebo esse questionamento, logo pergunto para eles: "mas por que você quer aprender sobre isso?", tentando compreender os motivos da curiosidade e as respostas em 99% dos casos falam sobre a vontade de saber sobre as batalhas, as guerras e de tudo aquilo que eles já souberam por jogos, filmes, séries e coisas do cotidiano.
E aí volto a questionar as pequenas cabeças pensantes, perguntando "e como você acha que os historiadores daquela época lidaram com tudo o que estava acontecendo no mundo? E como hoje em dia vocês estudam tudo aquilo de uma forma regular?" Deixo aquele silêncio tomar conta do momento, percebendo uma certa angústia em relação ao questionamento e retomo o debate.
Converso sobre o distanciamento temporal em relação as diferentes fontes históricas, relembrando sempre que quem dá voz a esses resquícios é a historiadora/historiador, pois as fontes não falam por si mesmas. Nesse momento, a metodologia é empregada, com focos de análises, compreensões e leituras acerca do momento estudado, muitas vezes, partindo das vivências e interesses de cada pesquisador.
E aí retorno a perguntar para eles "e como será que vamos explicar 2020?", da mesma forma que explicamos tantos outros eventos da história da humanidade. Com distanciamento temporal e rigor científico. E assim o fazer histórico continua...
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