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História para quem?

  • Foto do escritor: Marcos A. Manoel Junior
    Marcos A. Manoel Junior
  • 1 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de nov. de 2020

O presente artigo pretende trazer discussões iniciais sobre uma série de debates acerca do campo em que o Ìotopía se encontra, a História Pública. Nesse primeiro ensaio, pretendo abordar assuntos básicos sobre “para quem se faz a história?” A lembrar nosso primeiro artigo do blog, sobre “História para quê?” no qual abordamos sobre como a História está presente em nossas vidas, e sendo a escrita da História uma das questões levantadas nos últimos anos, devemos compreender: para qual público essa escrita está direcionada?


O campo da História Pública vem ganhando adeptos no Brasil desde 2011, e cabe destacar que assim como outros campos, a HP não tem uma definição concreta sobre o seu significado. No Brasil em específico, o debate inicial se deu sobre as produções não acadêmicas sobre a história. Livros de jornalistas, que usam de uma linguagem acessível para o grande público, porém, com generalizações e simplificações que reforçam estereótipos ou caricaturas de personagens históricos (“Uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta...”). Esse tipo de escrita, embora acessível, acaba reforçando uma ideia de identidade brasileira pautada na ignorância e na banalidade das classes baixas. Grande parte desses estereótipos nasceram por meio de enredos de novelas e de filmes, que receberam suporte financeiro direto do governo, como no filme: “Independência ou Morte”, lançado em 1972.


A forma simplista de se explicar história, encontra raízes no imaginário social do País do início dos anos 1900. Pois, mesmo após a proclamação da República, o Brasil ainda era governado pela mesma elite agrária dominante. Assim, temos os chamados “discursos oficiais”, que legitimavam certos tipos de segregações contra grupos minoritários. Como exemplo dessa visão elitista, temos o personagem Jeca Tatu do livro “Urupês” de Monteiro Lobato. E mais recente, um estudo do sociólogo Jesse Souza, que trata da forma como os discursos da “elite do atraso” influenciaram na forma de como o próprio brasileiro se enxerga.


Porém, aqui é importante que se faça uma mea-culpa acadêmica, pois é do conhecimento de todos que a academia brasileira por muitos anos também era elitista (e muito provável que essa situação retorne nos próximos anos). Sendo suas produções sempre voltadas para os pares, sem ter um debate sobre a função social de determinadas pesquisas. Esse cenário passou a mudar no pós-redemocratização, mas ainda existem situações que ocorrem nos corredores, sobretudo preconceitos entre Bacharéis e Licenciados (no caso da História), em que um certo ego por acharem que uma faz "História de Verdade" em detrimento da outra, acaba refletindo em problemas com o aceitamento de pesquisas que não utilizam fontes “tradicionais”, mas se voltam para produtos do cotidiano das pessoas. Assim, a História, sempre um pé atrás com relação às outras ciências sociais, deve correr para entender as demandas contemporâneas da sociedade.


Recentemente houve, com muito esforço, o reconhecimento da profissão de historiador no Brasil. Esse é um passo fundamental principalmente para que graduados, sendo licenciados ou bacharéis, possam ter uma carreira que não dependa da academia, da mesma forma, serve para que a academia comece a observar que a História não se faz apenas dentro de seus muros. Em artigo publicado no dia 17 de outubro, aqui no blog, o Ray Alves discute essa forma da escrita acadêmica e os problemas que enfrentamos para tentar fazer parte do seleto grupo de “notáveis”. Em minhas pesquisas, utilizo alguns autores da escola francesa (a bem conhecida Escola dos Annales), e chega parecer deboche quando leio que sou “desprovido de talento”, porque não entendo o que o autor escreve. Essa arguição erudita é o principal motivo que afasta as pessoas de textos de historiadores, pois, se eu busco por um livro sobre Revolução Francesa, eu quero entender o que foi o evento, e não decifrar parágrafos maçantes que muitas vezes não dizem nada com nada.


Cabe um destaque, que não estou falando que historiadores devam escrever textos rasos sem reflexão e teoria, mas sim, de trazer essas reflexões e teoria de forma que todos possam compreender. Por exemplo, em uma aula de estágio, sobre Idade Média, o professor conseguiu explicar os conceitos de imaginário e representação utilizando de fábulas, como a da Chapeuzinho Vermelho, para uma turma de 7º ano. Não é difícil de fazer, basta querer! A escrita da História é assunto de debates desde meados da década de 1970, mas chega ser desesperador ver que ainda existem livros e estudos que não dão valor às narrativas, pois não querem ser considerados “literatura”. E isso fica evidente quando historiadores que trazem trabalhos para o público geral, ainda são hostilizados e não tem um reconhecimento, porque não abordam “a História de Verdade” de grandes nomes e grandes personagens.


Mas e qual a solução? Essa é a pergunta que a História Pública tenta responder, porém, por se tratar de um campo relativamente novo, e não ter grandes nomes que a analise, ainda sofre com o nosso academicismo. Fico feliz em ver que quase todas as linhas de apresentações das ANPUH’s desse ano trouxeram a História Pública, mas ainda é um caminho sinuoso. Nos próximos textos vamos buscar refletir sobre esses caminhos que podemos traçar para levar a História para o público geral, do mesmo modo, analisando produções recentes de sites, blogs, e podcasts que atingiram esse propósito.

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